Certos sentimentos são muito conhecidos nossos, apesar de não sabermos se a quantidade que geramos em uma situação, precisa ser todo escoado de alguma forma. Quando nasce espontaneamente uma certa dose de medo, que nos faz suar, bambear as pernas e perder a ação por alguns segundos, quando subimos ao Pão de Açúcar de bondinho por exemplo, será que o alívio que sentimos quando estamos já seguros em terra firme, olhando a paisagem, consome todo o medo gerado?
Quando estamos caminhando, esquecidos de tudo, com o pensamento no infinito, e esbarramos naquele amigo que a meses não vemos, vem logo aquela alegria, abraços, enfim, um eufórico encontro. Conversamos sobre tudo que rolou nesse tempo em que não nos vimos e a nostalgia corre solta. Gargalhadas, cumplicidade colocada à prova. Num encontro, rápido e preciso, entendemos tudo em poucas palavras, combinamos um novo encontro, e seguimos felizes. O sentimento gerado nesse encontro, agora nos faz companhia durante todo o percurso dessa antes solitária caminhada.
Tenho um novo exercício constante. Focar-me no presente. Tudo fica bem mais tranquilo, sem o peso de carregar tanta informação já vivida, e bem mais leve.
Já a algum tempo estou envolvido com esse verdadeiro projeto.
É uma coisa a ser construída.
Outro dia, numa reunião de família, me sentindo o tal, cada olhar, assunto ou até objetos me remetiam a uma coisa já vivida. As boas eram bem vindas e acompanhadas de um sentimento gostoso, outras já me faziam sentir tédio, e algumas até raiva. Não raiva de alguém especificamente, mas de mim mesmo. As vezes nos sentimos meio trouxas, depois que algumas situações passam, e que percebemos que deixamos de dizer coisas, ou simplesmente optamos em dizê-las ao invés de ir embora em silêncio. Ou então quando constatamos com fatos ou algumas lembranças que aquele velho sentimento de rejeição, talvez não seja só fruto da nossa imaginação. Tudo bem!
Essas coisas nos jogam imediatamente no passado, e lá estamos nós novamente às voltas com sentimentos que considerávamos superados a muito tempo.
Sofrendo como uma pequena criança, que faz xixi nas calças em plena sala de aula, porque a enfadonha professora nariguda e de óculos fundos, proibira qualquer um de falar enquanto não acabasse de ler o texto. Acaba a aula, é a ultima a se levantar, querendo que um buraco se abra bem à sua frente e a engula e a cuspa diretamente em sua cama. Se levanta e vai embora, jurando nunca mais voltar.
Acho que esses sentimentos de alguma forma ficam agendados para uma um retorno incrível, quando vivemos uma situação ou similar ou que gere sentimentos parecidos.
Por exemplo, quando começamos um curso novo, ou um novo emprego, e numa dessas reuniões de apresentação, ficamos lá no fundo observando tudo rezando para que ninguém nos note. Até parece que fizemos xixi nas calças de novo.
Legal é saber que talvez estejam realmente armazenados, mas como uma biblioteca.
Cada sentimento como um livro na estante, pronto para ser usado numa pesquisa ou tese a ser defendida. Talvez até como um livro nunca lido, já que tem sentimentos apesar de genuínos e intensos, nem sempre são compreendidos ou até identificados. Ficam como livros a serem lidos, quando chega o momento exato em que possamos entendê-lo.
A vida, um professor a indicar uma leitura necessária para aquele momento do “curso”.
Às vezes fazemos trabalhos em grupo, e outras, estudos longos e solitários na silenciosa biblioteca dos sentimentos.
Alguns livros são relidos em outras épocas, e ganham outra interpretação.
Alguns nos emocionam sempre quando lidos, outros nos matam de tanto rir.
Assim, vamos vivendo sendo poesia, verso, prosa e às vezes crônica. Às vezes comédia, às vezes drama.
Certas horas um perfeito romance e em outras uma simples novela.
Cláudio Faria
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