Hoje, quando fui postar aqui no blog, fiquei pensando em algumas pessoas que tem o dom de mexer em algo dentro de nós, mudando ou reorientando o rumo das coisas. Lembrei-me da minha irmã L e meu cunhado R, minha amiga R que está em La Plata, CJ, FC,FZ, SR e seu filhinho V no Rio, V, S, W, sempre por perto, C que agora é mãe de AL, CC minha eterna mestra, FV, BG, TH, LP, PPA, artistas-amigos e verdadeiros mestres, minha mãe, meu pai, meu irmão G e sua família... tanta gente... tantos mestres...
Pensando nisso, me lembrei da Déia Januzzi, jornalista e escritora, que um dia tive o privilégio de conhecer.
Esse post é uma crônica que escrevi em 2004, que publico hoje, em sua homenagem...
O rio da minha vida segue mais firme...
A primeira vez que li uma de suas crônicas foi num domingo preguiçoso, desses que pegam a gente na cama, de olhos bem abertos a sonhar descaradamente sem nenhum pudor, feito criança em festa de aniversário, que fica olhando o bolo de chocolate, esperando o melhor momento para enfiar o dedo e roubar um belo naco sem que ninguém veja.
Que delícia!
Sorrindo, depois de passar horas criando coragem para me levantar, tratei logo de me mexer e ir viver, pois como cantava nosso amado e saudoso Cazuza, “O tempo não pára".
Chego ao clube com o jornal do dia e a esperança de encontrar um lugar à sombra para desfrutá-lo, missão quase impossível em um belo domingo de sol.
Depois de me ajeitar no melhor lugar que pude encontrar, passo olhos preguiçosos por todo o jornal, até me fixar num ponto e começar realmente a ler.
Quase não noto o turbilhão que isso me causa, até perceber constrangido, os olhos molhados: -“Aqui tudo bem, só que estou sangrando”.
Ler essa crônica me levou à uma viagem reveladora.
Hoje tenho 34 anos, e depois de tantas escolhas e decisões durante a vida, algumas difíceis, outras tão naturais que nem me lembro, fico pensando: e minha mãe nisso tudo?
Sempre achei que ela estava vivendo sua vida, e nem se importava tanto assim comigo. Pintora, uma casa grande, marido e tantos filhos, sonhos, alguns deixados pelo caminho, será que estava todo o tempo atenta? Ou o que é pior, sentia cada coisa junto comigo?
Tudo bem, durma com um barulho desses...
Algum tempo depois e já é Natal. Minha mãe recebe de presente do meu irmão Luiz e minha cunhada Juçara, artistas sutilmente especiais, pessoas com as quais é preciso ter um olhar mais atento para perceber tantas nuances, um livro que viria a ser um presente para mim. Peguei-o como por um acaso, numa dessas noites em que a insônia insiste em se fazer companheira, só pra pegar no sono.
Li-o inteiro.
É surpreendente e comovente ver um ser, tão humano e tão divino assim, mãe!!!
Nesse momento, me senti tão amado pela minha, e tão cheio de amor por ela que, pleno, nem me lembrei de ter passado quase a noite toda em claro, super iluminado e feliz.
Dormi o que me restou da noite e acordei animado pra viver, com um sentimento insistindo pra se fazer notar, e que só mais tarde identifiquei: um profundo e delicioso sentimento de paz.
As crônicas dançavam na minha lembrança entre o real e o imaginário.
Durante o dia, me pegava rindo sozinho, quando via no sinal malabaristas-meninos, com sua arte e sua sina, ou me lembrava das minhas viagens a Trancoso, ou alguns de meus amigos “diferentes” como aquele índio de caraívas da “História de Índio”.
Me emocionava, imaginando os sentimentos de quem viveu, a coragem de quem escreveu, revivendo cada fato, e as emoções de quem leu cada crônica.
Será que a Déa imaginou mexer no curso do rio da vida de tantas pessoas assim?
Não sei, mas confesso, mexeu no meu.
Quase lhe escrevi, lembrando do Rilke, em “Cartas a um Jovem Poeta”, ou Fernando e Clarisse se correspondendo em verso e prosa, mas deixei pra lá até conhecer seu filho. Engasguei de emoção e não tive coragem de lhe dizer o tanto que já me emocionara com ele e sua mãe.
Como já me sentia intimo dele e nem tanto assim dela, já que a admiração que tinha por ela, como escritora e mãe, me fazia ter um cuidado especial de não chegar assim "tão perto", para não pagar o mico de pedir um autógrafo.
Fiquei sem graça e fiquei puxando papo como quem, amante de Monteiro Lobato, visita o “Sítio do Pica-pau Amarelo”, ou quem assiste “O Mágico de OZ” e sonha que o tufão o levou junto com Doroth e seu inseparável Totó à incrível estrada de pedras amarelas que leva até OZ, ou simplesmente é o melhor amigo do Eduardo de “O Encontro Marcado”, do Sabino...
Fui embora, com a sensação de ter “engolido uma bigorna”!
Não disse nada demais, a não ser a estúpida frase: - Fala para sua mãe que conheceu um fã dela. Um abraço...
Engoli tudo: a vontade de lhe agradecer por tanta coisa boa, tanta riqueza, tanta dor e tanto prazer. Enfim, tanta beleza.
Espero que se algum dia eu vier a conhecê-la, eu não peça simplesmente um autógrafo e vá embora esquecendo ou tendo medo de dizer: -Olha, o rio da minha vida está seguindo mais firme em direção ao mar! O mar de amar, de viver e se tornar "O Grande Oceano", depois que passou por um certo "Coração de Mãe"...Cláudio Faria
Lindo demais! Lágrimas nos meus olhos, saudade de minha mãe.
ResponderExcluirBeijuuss no coração.
Oi Regina,
ResponderExcluirQue bom que gostou!
Eu acredito que os corações que se amam sempre estarão ligados, não importa onde estejam...
Imagine um coração de mãe...
Bjo Grande!
Linda homenagem.
ResponderExcluirVc sabe da minha relação de mãe e com mães.
Tenho orgulho de ser uma delas, especialmente pra vc.
Bjo, bjo, bjo!