quarta-feira, 3 de junho de 2009

... aconteceu em 2004...

Hoje, quando fui postar aqui no blog, fiquei pensando em algumas pessoas que tem o dom de mexer em algo dentro de nós, mudando ou reorientando o rumo das coisas. Lembrei-me da minha irmã L e meu cunhado R, minha amiga R que está em La Plata, CJ, FC,FZ, SR e seu filhinho V no Rio, V, S, W, sempre por perto, C que agora é mãe de AL, CC minha eterna mestra, FV, BG, TH, LP, PPA, artistas-amigos e verdadeiros mestres, minha mãe, meu pai, meu irmão G e sua família... tanta gente... tantos mestres...
Pensando nisso, me lembrei da Déia Januzzi, jornalista e escritora, que um dia tive o privilégio de conhecer.
Esse post é uma crônica que escrevi em 2004, que publico hoje, em sua homenagem...



O rio da minha vida segue mais firme...

A primeira vez que li uma de suas crônicas foi num domingo preguiçoso, desses que pegam a gente na cama, de olhos bem abertos a sonhar descaradamente sem nenhum pudor, feito criança em festa de aniversário, que fica olhando o bolo de chocolate, esperando o melhor momento para enfiar o dedo e roubar um belo naco sem que ninguém veja.
Que delícia!
Sorrindo, depois de passar horas criando coragem para me levantar, tratei logo de me mexer e ir viver, pois como cantava nosso amado e saudoso Cazuza, “O tempo não pára".
Chego ao clube com o jornal do dia e a esperança de encontrar um lugar à sombra para desfrutá-lo, missão quase impossível em um belo domingo de sol.
Depois de me ajeitar no melhor lugar que pude encontrar, passo olhos preguiçosos por todo o jornal, até me fixar num ponto e começar realmente a ler.
Quase não noto o turbilhão que isso me causa, até perceber constrangido, os olhos molhados: -“Aqui tudo bem, só que estou sangrando”.
Ler essa crônica me levou à uma viagem reveladora.
Hoje tenho 34 anos, e depois de tantas escolhas e decisões durante a vida, algumas difíceis, outras tão naturais que nem me lembro, fico pensando: e minha mãe nisso tudo?
Sempre achei que ela estava vivendo sua vida, e nem se importava tanto assim comigo. Pintora, uma casa grande, marido e tantos filhos, sonhos, alguns deixados pelo caminho, será que estava todo o tempo atenta? Ou o que é pior, sentia cada coisa junto comigo?
Tudo bem, durma com um barulho desses...
Algum tempo depois e já é Natal. Minha mãe recebe de presente do meu irmão Luiz e minha cunhada Juçara, artistas sutilmente especiais, pessoas com as quais é preciso ter um olhar mais atento para perceber tantas nuances, um livro que viria a ser um presente para mim. Peguei-o como por um acaso, numa dessas noites em que a insônia insiste em se fazer companheira, só pra pegar no sono.
Li-o inteiro.
É surpreendente e comovente ver um ser, tão humano e tão divino assim, mãe!!!
Nesse momento, me senti tão amado pela minha, e tão cheio de amor por ela que, pleno, nem me lembrei de ter passado quase a noite toda em claro, super iluminado e feliz.
Dormi o que me restou da noite e acordei animado pra viver, com um sentimento insistindo pra se fazer notar, e que só mais tarde identifiquei: um profundo e delicioso sentimento de paz.
As crônicas dançavam na minha lembrança entre o real e o imaginário.
Durante o dia, me pegava rindo sozinho, quando via no sinal malabaristas-meninos, com sua arte e sua sina, ou me lembrava das minhas viagens a Trancoso, ou alguns de meus amigos “diferentes” como aquele índio de caraívas da “História de Índio”.
Me emocionava, imaginando os sentimentos de quem viveu, a coragem de quem escreveu, revivendo cada fato, e as emoções de quem leu cada crônica.
Será que a Déa imaginou mexer no curso do rio da vida de tantas pessoas assim?
Não sei, mas confesso, mexeu no meu.
Quase lhe escrevi, lembrando do Rilke, em “Cartas a um Jovem Poeta”, ou Fernando e Clarisse se correspondendo em verso e prosa, mas deixei pra lá até conhecer seu filho. Engasguei de emoção e não tive coragem de lhe dizer o tanto que já me emocionara com ele e sua mãe.
Como já me sentia intimo dele e nem tanto assim dela, já que a admiração que tinha por ela, como escritora e mãe, me fazia ter um cuidado especial de não chegar assim "tão perto", para não pagar o mico de pedir um autógrafo.
Fiquei sem graça e fiquei puxando papo como quem, amante de Monteiro Lobato, visita o “Sítio do Pica-pau Amarelo”, ou quem assiste “O Mágico de OZ” e sonha que o tufão o levou junto com Doroth e seu inseparável Totó à incrível estrada de pedras amarelas que leva até OZ, ou simplesmente é o melhor amigo do Eduardo de “O Encontro Marcado”, do Sabino...
Fui embora, com a sensação de ter “engolido uma bigorna”!
Não disse nada demais, a não ser a estúpida frase: - Fala para sua mãe que conheceu um fã dela. Um abraço...
Engoli tudo: a vontade de lhe agradecer por tanta coisa boa, tanta riqueza, tanta dor e tanto prazer. Enfim, tanta beleza.
Espero que se algum dia eu vier a conhecê-la, eu não peça simplesmente um autógrafo e vá embora esquecendo ou tendo medo de dizer: -Olha, o rio da minha vida está seguindo mais firme em direção ao mar! O mar de amar, de viver e se tornar "O Grande Oceano", depois que passou por um certo "Coração de Mãe"...Cláudio Faria


3 comentários:

  1. Lindo demais! Lágrimas nos meus olhos, saudade de minha mãe.
    Beijuuss no coração.

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  2. Oi Regina,
    Que bom que gostou!
    Eu acredito que os corações que se amam sempre estarão ligados, não importa onde estejam...
    Imagine um coração de mãe...
    Bjo Grande!

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  3. Linda homenagem.
    Vc sabe da minha relação de mãe e com mães.
    Tenho orgulho de ser uma delas, especialmente pra vc.
    Bjo, bjo, bjo!

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