sábado, 18 de abril de 2009

Vida: papel em branco.

Papel em branco pode receber de tudo. Qualquer idéia, todo sentimento. Sem nenhum critério, o que quisermos. Qualquer palavra, nem sempre o verso certo ou a melhor rima. Poesia concreta ou vida virtual, o real, o imaginário, amores platônicos ou meras lembranças. Avisos corriqueiros, tais como a data da consulta que não podemos esquecer, ou do dentista e da análise que pagamos caro, mesmo se faltarmos. A sempre útil lista de afazeres ou de compras, que sem a qual sempre chegamos no fim do dia com alguma tarefa ou coisa faltando, esquecida e naturalmente empurrada para o dia seguinte.
O simples bilhetinho de paquera, escrito às pressas num bar para ser entregue a alguém, sem que alguém veja, ou as intermináveis cartas de amor. Engraçado que nessa “era virtual”, ele, o amor, ainda é anotado em bilhetes, falando de suas ruas e seus ramalhetes, em alguma dessas tardes.

Para alguns, material de trabalho, o que às vezes o torna chato. Para outros, quase uma necessidade.

Quando era adolescente, e o Legião Urbana estourou em todo o Brasil, quase todos tinham em casa os discos da banda ou, naqueles tempos, uma fitinha gravada com o que havia de melhor para se levar a um acampamento. Hoje considerado “O Poeta da sua geração”, Renato Russo escreveu e cantou, dentre tantas coisas: “Quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim”... ei-lo, o Papel: um verdadeiro amigo, desses que simplesmente te escutam, ou melhor, se abrem a tudo que queremos dizer sem qualquer julgamento. Claro que, às vezes brancos à nossa frente, se tornam verdadeiros carrascos, quando queremos escrever sobre algo que não sabemos direito o que é, mas precisamos fazê-lo. Algo que nos sufoca e precisa ser colocado pra fora mas que, às vezes, ainda não elaborado, se torna missão quase impossível descrevê-lo, imagina escrevê-lo!

Uma poesia ou canção, ou um simples bilhete que deixamos pra faxineira às vezes se torna um terrível pesadelo. Quando empacamos, lá está ele, imóvel, em silêncio, à espera, conformado como qualquer Amélia, ou uma daquelas mulheres de Atenas e do nosso glorioso Chico, fazendo um simples momento parecer quase uma eternidade. Talvez quiséssemos que ele opinasse, ou sugerisse algum caminho, palavra ou verso mas, segundo um amigo analisado, amigo mesmo não decide nunca por você.

Durma com um barulho desses!

O que seria de nós se não existisse o papel? Órfãos de Quintana, Drumond, Clarisse, Adélia ou Pessoa e seus alter egos?

Tudo isso me ocorreu diante de uma folha branca, e da necessidade de entender o universo existente dentro de nós.

Tenho descoberto que escrever é uma espécie de mergulho interno, do qual voltamos com provas concretas de que somos semente, fruto e flor desse Amor Universal, do qual muito se escreve, mas que muitos insistem em buscar fora. Criador e criatura, vou me surpreendendo, descobrindo, aprendendo e vivendo como quem escreve num papel em branco sua história.

Cláudio Faria

Um comentário:

  1. Tudo!!
    Cada dia que passa, percebo que meus amigos são, além de pessoas maravilhosas e talentosas, poetas-escritores que andam escondidos por aí e que, quando aparecem, como seria de se esperar, surpreendem!
    Amo você, amor! Tô muito feliz por seu blog.

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